Judô: Vice-presidentes tentam instituir o caos na CBJ

Com falsas acusações, dirigentes apegados ao poder querem vencer no grito, recorrendo a falácias, ameaças e suposições para confundir a coletividade judoísta.

Na última segunda-feira a comunidade do judô foi atingida pelo golpe de uma mente doentia, de alguém que há mais de um ano vinha ameaçando prender, fazer e acontecer, caso suas imposições e caprichos não fossem atendidos. Desde que Paulo Wanderley anunciou que deixaria o comando da CBJ, Marcelo França implantou o terror por não aceitar o fim de uma era em que reinou absoluto na 1ª vice-presidência da entidade.

O mais espantoso, porém, é que resolveu enviar correspondência a dirigentes estaduais, dirigentes de clubes, atletas e até dirigentes estrangeiros chamando Paulo Wanderley de autoritário e ditador. Justamente ele que, ocupando a vice-presidência da CBJ, se perpetuou no comando do judô baiano – ao colocar toda a família na presidência da federação estadual –, cobra democracia, transparência e descentralização, sem o menor pudor. Onde está a ética de uma pessoa que acusa terceiros daquilo que há décadas pratica de forma indiscriminada e irresponsável em seu Estado?

Adepto fervoroso do nepotismo e do anarquismo populista, o dirigente baiano galgou espaço no cenário nacional depois de infindáveis reeleições na Federação Baiana de Judô (Febaju), na qual, desde 1995, é senhor absoluto da modalidade.

Em 2005 foi eleito vice-presidente da CBJ e posteriormente conduziu Antônio Oliva França, seu irmão, à presidência da Febaju, mas foi sempre ele quem deu as cartas e ditou normas, até que o irmão decidiu caminhar sobre as próprias pernas – o que lhe custou cair em desgraça e ser deposto sumariamente em 2013.

Foi a vez, então, de seu filho, Marcelo Ornellas da Cruz França Moreira, ocupar o cargo para garantir ao pai a manutenção do controle absoluto do judô na Bahia. Em 2013 Ornellas foi eleito para seu primeiro mandato e, recentemente, reeleito para comandar a Febaju no próximo quadriênio. Numa avaliação imparcial o presidente baiano fez uma gestão inovadora e dinâmica, e devido aos abusos e vícios do pai, desvencilhou-se dele e hoje o patriarca não dá mais as cartas na Febaju, tamanho é seu descrédito até mesmo na Bahia.

Entendendo a origem do problema

Após exercer quatro mandatos à frente da CBJ e projetar o judô brasileiro ao patamar mais elevado no desporto amador brasileiro, Paulo Wanderley Teixeira achou que havia chegado o momento de renovação e decidiu aceitar o convite feito por Carlos Arthur Nuzman, e em janeiro foi eleito vice-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Mas o primeiro ato do dirigente foi licenciar-se do cargo por 60 dias, para poder promover a eleição da CBJ e fazer a transmissão do cargo ao seu sucessor.

Devido à excelente gestão que resultou no melhor retrospecto olímpico do País, na estruturação e crescimento do judô em todo o território brasileiro, havia consenso de que Paulo Wanderley indicaria seu sucessor, e todos os dirigentes estaduais apoiariam sua indicação como uma espécie de reconhecimento pelo legado do gestor nacional para a modalidade.

Tudo transcorria bem e na mais perfeita ordem, até que Paulo Wanderley sugeriu o nome de Robnelson Ferreira, gestor técnico nacional de eventos da CBJ, para ocupar a presidência da entidade. Aí o bicho pegou, literalmente.

A partir daí alguns presidentes estaduais recuaram, deixando de lado o compromisso que todos haviam assumido, e passaram a combater a indicação do presidente, alegando que o indicado deveria ser um dos 27 presidentes estaduais ou um dos vice-presidentes.

Paulo Wanderley entende que o futuro presidente não poderá fazer a gestão por meio de um preposto ou via telefone. “Na verdade, minha indicação inicial era o professor João Rocha, nosso 2º vice-presidente, mas os compromissos assumidos por ele na política partidária inviabilizaram sua indicação. Ele é o presidente da Câmara dos Vereadores de Campo Grande (MS), e existem razões técnicas que o impedem de assumir”, explicou o dirigente, que falou sobre a importância de um gestor participativo e atuante. “Vários presidentes estaduais estão capacitados para assumir o desafio de fazer a gestão da CBJ. Contudo, os que possuem esta prerrogativa estão inteiramente envolvidos em compromissos profissionais, empresarias ou políticos, e certamente delegariam a gestão a terceiros – e com o judô isto não funciona”.

Vices se unem para fomentar o caos

Após a exacerbação dos ânimos, houve um racha e ambos os lados foram a campo para defender posições e pontos de vista e, na segunda-feira, o placar mostrava 16 votos para a situação e dez contra. Há muito não se via tamanha divisão na modalidade, mas isso não justifica as agressões perpetradas pelo vice baiano que, além de inverdades no campo da gestão, mentiu ardilosamente. Em determinado ponto Marcelo França pergunta a seus pares: “Como podemos fazer parte ou estar sob comando de um grupo imposto, centralizador, citado em denúncias, acusações e corrupção?”

Mesmo fazendo o que faz no judô da Bahia, Marcelo França teve a ousadia de disparar contra o dirigente que o colocou e manteve no cargo, mesmo sabendo de seus hábitos e costumes. Pergunto: isto é ser judoca? Será que foi isto que sensei Kano pregou?

A que denúncias o vice-presidente se refere? Quando o presidente da CBJ teve seu nome envolvido em alguma irregularidade ou escândalo? Talvez o grande erro de Paulo Wanderley tenha sido manter por tantos anos uma pessoa emocionalmente desequilibrada, desqualificada e totalmente despreparada para ocupar um cargo tão importante. O pior foi ter fechado os olhos para os abusos e absurdos que ele perpetra até hoje no cenário baiano. Mais recentemente, começaram os problemas envolvendo o Centro Pan-Americano de Judô, equipamento que, aliás, era uma das exigências de Marcelo França para não “tumultuar o processo”. Sim, esta era a pretensão e o preço que o gestor baiano cobrava para silenciar as mentiras e inverdades que na segunda-feira despejou irresponsavelmente sobre a comunidade judoísta.

Como pontuamos acima, a segunda vice-presidência é ocupada por João Rocha, vereador sul-mato-grossense que deixará o cargo da CBJ em março, devido à incompatibilidade política. Outro personagem importante neste enredo é Francisco de Carvalho Filho, 3º vice-presidente da CBJ que também é vereador na cidade de Mauá (SP), e da mesma forma está impossibilitado de assumir o cargo na CBJ, já que nenhuma pessoa envolvida na política partidária pode participar da diretoria de entidades que recebam verba governamental. Chico, como é chamado por todos, não se rebaixou ao nível atingido por seu colega baiano.

Soubemos que na sexta e no sábado os três vices estiveram reunidos em São Paulo, onde discutiram a estratégia que seria utilizada para desconstruir a imagem de Paulo Wanderley perante os presidentes estaduais e, principalmente, junto aos judocas de todo o País, e a primeira ação resultante da reunião destes dirigentes foram os ataques proferidos pelo dirigente baiano.

É muito importante lembrar que tanto João Rocha quanto o Chico são políticos de carreira e exercem liderança num ambiente totalmente adverso ao judô. Sabem como agir em situações extremas e todos os judocas de bem têm de estar com os olhos abertos para os próximos atos que o grupo desenvolverá visando a tomar o poder numa das entidades mais poderosas do desporto brasileiro.

Muito provavelmente o último ato de Paulo Wanderley Teixeira em prol do judô será livrar a modalidade destas aves de rapina, que não satisfeitas com todo o poder conquistado em seus municípios e Estados, querem se apossar de uma entidade com tradição de isonomia e extrema qualidade na gestão.

Preocupados apenas com interesses pessoais, alguns dirigentes esquecem que a gestão da CBJ demanda capacidade, conhecimento de causa e comprometimento. Predicados e virtudes que vemos em Robnelson Ferreira.

A eleição na CBJ tem hora e data marcadas, e os próximos 26 dias deverão expor as vísceras da amizade e a relação de quatro dirigentes que hoje se comportam como um casal que se separa após 16 anos de união e, do nada, partem para a carnificina na disputa pelo patrimônio acumulado.

O legado de Paulo Wanderley para o judô brasileiro e continental é incomensurável e não pode ser corrompido pelos interesses de meia dúzia de demagogos mentirosos. Sua gestão não pode ser comparada à de nenhum outro gestor esportivo do País, e temos certeza de que todos os judocas que possuem poder de decisão no pleito de 4 de março lerão os fatos com clareza e não permitirão que a vaidade, soberba, ambição e interesse de alguns dirigentes levem o judô de volta ao passado e nivelem a modalidade ao que vemos de pior em nosso País.

 

Por: PAULO PINTO – Revista Budô / Foto: BUDOPRESS

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