Comentários do quarto dia de competição dos Jogos Olímpicos Rio 2016 – por Paulo Duarte

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Mais um dia sem medalhas para o nosso judô. Nossos representantes: Mariana Silva (63 kg) e Victor Pénalber (81 kg) não conseguiram chegar às finais em suas respectivas categorias. Mas, devemos salientar a excelente participação de Mariana Silva. Sua trajetória durante o ciclo olímpico registrou conquistas de medalhas no continente americano. A falta de medalhas em competições realizadas nos demais continentes não a credenciava como favorita à conquista de medalhas nos jogos olímpicos. Realmente isso não aconteceu. Porém, ela se superou e chegou à disputa da medalha de bronze, no melhor estilo do espírito brasileiro – raça, disposição, vibração. Sem sombra de dúvida, todos nós nos sentimos muito bem representados e, mesmo sem medalha, reconhecemos o esforço dessa moça de Peruíbe que emocionou a todos nós.
Nosso outro representante, Victor Pénalber, sofreu uma derrota para um grande atleta que, assim como ele, tem uma grande experiência internacional. Aproveitou-se de detalhes que são decisivos quando os dois contendores possuem o mesmo nível técnico e infringiu uma dura derrota ao atleta brasileiro.
Vamos à análise das lutas.

Mariana Silva x Szogedi (GHA)
Em sua estréia em olimpíadas, Mariana se mostrou muito firme e decidida. Caminhou até a área de competição com passos firmes e o semblante fechado denotando muito foco naquilo que estava prestes a fazer. Iniciou o combate imediatamente buscando segurar o quimono de sua adversária com suas duas mãos. Assim que conseguiu estabilizar a pegada, desferiu um kosotogari que lhe valeu um yuko e, na sequência, com uma perfeita ligação pé-solo encadeou um koshijjime e decretou o ippon. Prevaleceu a sua maior categoria sobre a atleta de Gana.

Mariana Silva x Martina Trajdos (ALE)
Essa luta, teoricamente, poderia causar alguma preocupação para Mariana pelo fato de nunca ter vencido a atleta alemã. Mas isso não ocorreu. Foi Mariana quem tomou a iniciativa da luta. Nos primeiros momentos já conduziu sua adversária ao solo e tentou pegá-la em sankakujime. Como não conseguiu dentro do prazo estipulado pelo árbitro, a luta recomeçou com as duas atletas em pé. Dessa vez, foi a atleta alemã quem levou vantagem na pegada. Segurando muito forte no alto da gola do quimono de Mariana, a alemã a manteve sobre controle por alguns segundos. Mariana com uma boa saída de ombro se desvencilhou do domínio exercido por sua oponente. Quando as aduas voltaram a disputar a pegada, ambas seguraram as mangas do quimono uma da outra e assim permaneceram. O árbitro interrompeu a luta e puniu-as com shidô. A luta continuou “amarrada” sem que houvesse nenhuma alteração no placar. A 37 segundos do final, a atleta alemã levou o segundo shidô. Mariana controlou muito bem o restante do tempo e saiu vencedora deste combate.

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Mariana Silva x Yarden Gerbi (ISR)
A atleta israelense é muito conceituada, mas visivelmente sentiu o peso de enfrentar a brasileira em seus domínios. Em suas demais lutas, portou-se de forma muito diferente. Tanto que conquistou a medalha de bronze com muitos méritos. Contra Mariana lutou para segurar o ímpeto da brasileira para, numa oportunidade, quem sabe, conseguir alguma vantagem. A disputa pela pegada foi a tônica dos primeiros quatro minutos. Nada de mais relevante ocorreu neste período. A luta foi para o golden score. A partir daí a coisa mudou. Mariana veio com tudo para decidir a luta. Primeiro foi um osotogari que por pouco não derrubou a israelense. Depois foi um koshiguruma que também levou muito perigo. Yarden se assustou. Mariana percebeu. Segurou a gola do quimono de Yarden de forma cruzada, aplicou um sasaetsurikomiashi e em seguida complementou com um eri-seoi-otoshi que lhe valeu a vitória. A Arena Carioca se levantou. Mariana estava na semifinal.

Mariana Silva x Trstenjak (SLO)
A atleta slovena é a atual campeã do mundo. Quando o árbitro autorizou o início da luta, partiu para cima da Mariana para não deixá-la nem respirar. Sua estratégia foi perfeita. Se não fizesse isso, o Ginásio inteiro iria empurrar Mariana para cima dela e ela se sentiria acuada. Não é à toa que ela é campeã do mundo. Como era ela quem dominava as ações, logo segurou gola do quimono de Mariana e fazia com que ela se movimentasse na direção que lhe convinha. Numa dessas manobras fez um ipponseoinage de esquerda que lhe valeu um yuko e, na sequência, segurou Mariana em tateshihogatame e garantiu o direito de fazer a luta final.

Mariana Silva x Van Enden (HOL)
Mariana volta na repescagem para disputar a medalha de bronze contra a experiente atleta holandesa. Mariana começa bem a luta segurando as duas golas do quimono de sua adversária. No entanto, essa pegada não é a mais adequada contra uma adversária que aplica ipponseoinage. Esse era o caso de Van Enden. Sentindo que seu braço estava solto, não encontrou dificuldade para encaixar sua técnica e derrubar Mariana. Experiente, marcou um yuko e controlou a luta até o seu final conquistando a medalha de bronze.

Victor Pénalber x Sergiu Toma (UAE)
Victor enfrentou um atleta da maior qualidade e qualquer deslize neste estágio pode ser fatal. Foi o que ocorreu. Sergiu procurou desde o início da luta se impor através de uma pegada muito eficiente. Segurou muito forte no alto da gola do quimono do brasileiro e não permitiu que ele se mexesse. Victor se sentiu tão amarrado com a forte pegada do adversário que teve que se afastar – jogando o quadril para trás – para não ter os espaços ainda mais reduzidos. Só que, esse movimento, é faca de dois gumes. Se por um lado, evita que seus espaços sejam reduzidos, por outro, abre espaços para o adversário encadear seus golpes. Assim surgiu o primeiro sodetsurikomigoshi. Sergiu se valeu do mesmo expediente. Victor reagiu da mesma forma. Caiu no segundo sodetsurikomigohi. Fim de linha para Victor na olimpíada. Uma pena!

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Paulo Duarte – Kodansha, autor do livro “Judô – A educação para todos”.

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