Com uma atuação segura, seleção põe fim ao sonho do bicampeonato dos carrascos de Londres e se torna a primeira equipe a chegar a tantas decisões seguidas
Se dor existia, ela foi muito bem disfarçada. A coxa direita tinha um estiramento leve, mas e daí? Lucarelli saltava e a protegia do jeito que podia. Se as costas haviam ficado travadas um dia antes, Lipe dava um peixinho e esquecia do problema. O Brasil precisava deles para derrubar a Rússia. Precisava usar mais inteligência do que força para fazer os gigantes caírem em quadra. Achou a medida certa no saque, não enfrentou o bloqueio, exatamente do jeitinho que Serginho tinha cantado a pedra. Nesta sexta-feira, com uma atuação segura no Maracanãzinho, a seleção pôs fim ao sonho do bicampeonato dos carrascos de Londres 2012. Fez mais. Com a vitória por 3 sets a 0 (25/21, 25/20 e 25/17) chegou à sua quarta final olímpica consecutiva. Feito nunca alcançado por uma outra equipe.
Depois das duas pratas em Pequim 2008 e Londres 2012, o Brasil ganhou nova chance de fazer a alquimia. Para voltar ao alto do pódio depois de 12 anos, terá de passar pela Itália na final. Na fase de classificação a Azurra levou a melhor. O reencontro será neste domingo, às 13h15. Antes, às 9h30, americanos e russos lutam pelo bronze.
O jogo
Apesar dos problemas físicos, Lucarelli e Lipe iam para a quadra. E para cima dos russos. Lucarelli não deixava de fazer sua parte. Dando pancada ou um toque sutil que derrubava a defesa. A variação no saque também confundia a linha de passe dos adversários. E assim o Brasil ia se mantendo à frente do placar (12/11). A Rússia ganhava a torcida de Yelena Isinbayeva, que passava longe do Engenhão em noite de final do salto com vara. Lipe dava um peixinho para salvar uma bola no fundo da quadra, a seleção fazia um ponto e mostrava à bicampeã olímpica a dificuldade que os compatriotas dela estavam enfrentando. Wallace voava e abria 14/17. E seguia sem freio.
Vladimir Alekno se preocupava e pedia tempo. A diferença já rodava na casa dos cinco pontos. Tetyukhin chamava a responsabilidade. Wallace nem ligava. Virava mais uma e mais uma. A equipe vencia um belo rali e administrava bem a vantagem. Lucarelli garantia o primeiro set: 25/21.
A Rússia tentava equilibrar as ações. Mas cometia erros bobos, sobretudo com o experiente Tetyukhin. Um ataque para fora do ponteiro de 40 anos e a seleção tomava o comando (17/16) Seguia fazendo um jogo seguro. Lipe tinha seu nome gritado quando ia para a linha de saque. Retribuía com um serviço que se transformava em ponto. Os russos não se encontravam e o Brasil agradecia (20/18). Tetyukhin reclamava, ganhava cartão amarelo. O time se irritava e não jogava. Alekno olhava para a quadra sem acreditar no que via? 25/20.
De braços cruzados, o técnico russo assistia a tudo sem esboçar reação. Dentro das quatro linhas, a situação não melhorava. A torcida cantava que o campeão havia voltado. Jogava com a atitude de um. Fazia 14/11 no terceiro set sem ter registro de uma falha sequer na estatística. Wallace brilhava. Dava de ombros para o paredão, que nem parecia tão alto assim como em outros tempos (20/13). A Rússia não tinha mais forças. Só mostrava olhares perdidos. E o Brasil sangue nos olhos: 25/17.
Por Cahê Mota, Danielle Rocha, Edgard Maciel de Sá e Felipe Siqueira
Rio de Janeiro
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