Gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô diz que as três medalhas conquistadas no Rio não condizem com a preparação da equipe.
Na análise técnica da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), a participação brasileira na Olimpíada do Rio não correspondeu às expectativas. A meta de superar o desempenho nos Jogos de Londres, em 2012, não foi alcançada. Quatro anos atrás, o Brasil terminou a disputa com um ouro (Sarah Menezes) e três bronzes (Felipe Kitadai, Mayra Aguiar e Rafael Silva, o Baby). Na Rio 2016, um ouro (Rafaela Silva) e dois bronzes (Mayra Aguiar e Rafael Silva). Na avaliação do gestor de alto rendimento da CBJ, Ney Wilson, o resultado não correspondeu.
Acho que a nossa equipe estava melhor preparada do que o resultado que apresentou. A gente esperava um resultado que pudesse ser melhor do que o que foi apresentado. Acho que pelo comprometimento, pelo nível dos treinamentos dos atletas, com todo empenho da comissão técnica, com todo o investimento que a CBJ fez, enfim, eu acredito que o resultado não correspondeu a tudo isso. Por outro lado, a gente assiste uma competição que foi muito diluída de medalhas. Tirando o Japão, que está fora da curva, e o desempenho excepcional da França no último domingo, todos os países estão iguais. Se esperava muito da Coreia do Sul, que só fez duas medalhas de prata. Se esperava muito da Mongólia, que investiu absurdo. Holanda, Alemanha… São países de tradição no judô, mas que não alcançaram. Países que estavam emergentes, declinaram. Os que estavam no alto desceram. Foi muito competitivo. A gente encontrou uma competição de um nível muito alto. E não é muito alto em um país, mas em diversos países. Isso gerou a possibilidade de diminuir o número de medalhas.
Nos últimos quatros, a CBJ investiu R$ 20 milhões apenas para intercâmbios e treinamentos de campo fora do Brasil.
Sobre número de medalhas abaixo da meta, Ney Wilson reconheceu que a CBJ esperava mais. Porém, segundo ele, o Brasil mantém a posição na classificação final.
– A gente diminuiu o número de medalhas, mas mantivemos a mesma posição. A gente conquistou três medalhas, uma de ouro e duas de bronze. Em Londres, tivemos uma de bronze a mais. Lá, ficamos em sexto. Agora, mantivemos. A gente não pode achar que o desempenho foi ruim. O desempenho foi bom. Agora, a equipe tinha potencial para ser melhor.
A título de comparação, o Japão, quarto colocado em Londres, pulou para o primeiro lugar no quatro de medalhas do judô nos Jogos do Rio. Ganhou dois ouros a mais, num total de cinco medalhas a mais em relação ao que apresentou na Olimpíada de 2012.
Como era esperado, a equipe feminina do Brasil teve um desempenho melhor do que o dos homens nos Jogos Olímpicos do Rio. Desde os Jogos de Barcelona, em 1992, a equipe masculina não conquistava apenas uma medalha. Vale ressaltar que naquela edição a medalha foi de ouro, com Rogério Sampaio.
– Toda competição, sendo de sucesso ou não, a gente tem que avaliar. Campeonatos mundiais e Jogos Olímpicos são pontos de reflexão do que a gente precisa mudar, do que precisa evoluir. A gente teve a possibilidade, antes de 2008, de fazer uma guinada no judô feminino. Mudamos e hoje somos uma grande potência no judô feminino. No masculino, estamos num processo de renovação. Quatro atletas olímpicos estavam estreando nesses Jogos. Os atletas mais experientes, como Kitadai e Baby, foram os que passaram para o bloco final. Um foi sétimo e o outro foi bronze. Realmente precisamos nos aprofundar para renovar e reverter esse quadro. Temos potencial para isso, temos técnicos para isso, temos atletas para isso. É trabalhar e buscar o caminho, como encontramos no judô feminino.
O técnico da seleção masculina de judô, Luiz Shinohara, também esperava mais da equipe masculina.
– O desempenho ficou abaixo do esperado. A gente contava com pelo menos duas medalhas da equipe masculina. Quatro judocas estrearam aqui, e a seleção está num processo de renovação. Esperamos resultados melhores em Tóquio 2020.
Por DAVID ABRAMVEZT/RICHARD SOUZA/Globo.comI Fotos BUDOPRESS