Comentários do quinto dia de competição dos Jogos Olímpicos Rio 2016 – por Paulo Duarte

Infelizmente a participação dos nossos pesos médios Maria Portela (70 kg) e Tiago Camilo (90 Kg) não foi coroada com o sucesso que esperávamos. Passaram bem por suas primeiras lutas, mas perderam a seguinte e, assim, viram frustrados seus desejos de conquistarem medalhas olímpicas. A tristeza estampada no rosto daqueles que perdem não passa despercebida dos vencedores, principalmente quando percebem que foi uma fatalidade. Foi assim que a digna atleta austríaca se comportou ao consolar a nossa Maria Portela.
Os Jogos Olímpicos possuem uma mística única. As bases em que foram criados – a firme determinação de promover o congraçamentos de todos os povos – acendeu a luz da solidariedade no coração da humanidade tanto no passado como no presente. O espírito de solidadriedade paira dentro da Arena Carioca 2! Ao tomar conhecimento que o Comitê Olímpico Internacional acolheu o pedido da comunidade internacional para que os “refugiados” participassem das competições, mexeu com o emocional de todas as pessoas. Os atletas estão visivelmente emocionados. O choro, tanto de alegria como de tristeza tem se manifestado em todas as oportunidades. Então, vamos chorar também pela desclassificação dos dois!

Maria Portela x Nang (MAR)
As duas iniciam a luta segurando o quimono com apenas uma das mãos. O árbitro pune as duas com shidô. Reiniciada a luta, elas seguram o quimono com as duas mãos. Portela por ser mais baixa que todas as suas adversárias, precisa ter uma atenção constante no momento de segurar o quimono. Todas as suas adversárias querem tirar partido da maior estatura e segurar em cima, no alto de sua gola. Sem permitir que a adversária segurasse onde queria, encadeou um ipponseoinage que, mesmo não pontuando, fez com que Nang sofresse outro shidô. Percebendo que precisa segurar em cima da gola do quimono de Portela, Nang foi decididamente com essa intenção e conseguiu. Ao estabilizar o kumikata, encurtou todos os espaços. Portela, na ânsia de se desvencilhar desse domínio tentou fazer um ipponseoinage. Como não tinha espaço para virar o corpo, o árbitro, acertadamente, interpretou como falso ataque e a puniu com um shidô. Com o placar marcando dois shidôs para cada lado, a luta foi para o golden score.
No reinício do combate, Portela, fez um ipponseoinage e marcou um yuko decretando sua vitória.

Maria Portela x Graf (Aut)
Portela é destra e Graf canhota. A diferença de altura entre as duas é muito grande. Graf é uma das mais altas desta categoria. Iniciada a luta, Portela, acertadamente, procurou segurar a manga esquerda do quimono da atleta austríaca para evitar que ela segurasse no alto de sua gola. Isso durou poucos segundos. Logo, Graf se desvencilhou do bloqueio e passou a segurar em cima. Portela se viu em má situação, mas também conseguiu sair dessa incômoda posição. A luta foi para o golden score com o placar zerado. Reiniciada a luta, Graf segura fortemente em cima e coloca, novamente, Portela na mesma posição incômoda. Portela curva o corpo, joga o quadril para trás, mas não consegue se desvencilhar do domínio de Graf. Então, num ato inconsciente abraça a cintura de Graf, o que não é permitido. É punida com um shidô e a luta é encerrada. Portela dá adeus à competição.

Tiago Camilo x Piontek (RSA)
Nos primeiros segundos de luta, Tiago consegue um yuko com um belo kouchigari. Piontek percebe o perigo e segura a manga esquerda do quimono de Tiago e lhe dá algum trabalho. Tentando se livrar do bloqueio Tiago não percebe a aproximação da linha demarcatória do shiaijô e pisa fora. É punido com um shidô. Tiago sentindo que Piontek queria neutralizar seu braço esquerdo, segura cruzado e procura fazer um ouchigari e depois tenta um taiotoshi. A essa altura, Piontek já demonstra cansaço e está completamente perdido na luta. Tiago segue atacando. Um osotogari quase termina em ippon. Mas o ippon estava a caminho. No final da luta, Piontek vai desesperadamente para cima de Tiago no intuito de reverter a situação que lhe era desfavorável. Tiago segura cruzado em seu quimono e aplica um belíssimo taiotoshi jogando-o de ippon.

Tiago Camilo x Mehdiyev (AZE)
Uma luta em que a melhor das análises não consegue encontrar uma justificativa plausível para o que aconteceu. Tiago fez uma grande luta. Jogou seu adversário por três vezes em ouchigari sem, no entanto, conseguir uma pontuação. Porém, um osotogari lhe deu a vantagem merecida ao ser pontuado com yuko . A luta transcorria sem maiores problemas para Tiago. O adversário não o incomodava. Até que, a poucos segundos do final da luta, Tiago foi fazer uma entrada sem a devida estabilidade do kumikata e sofreu um uranage seguido de imobilização que reverteu a vantagem em favor do adversário. Mesmo conseguindo se livrar da imobilização, não havia mais tempo para nada. A olimpíada terminava para esse grande peso médio da história do judô brasileiro. Sinto muito!

 

PauloDuarte

Paulo Duarte – Kodansha, autor do livro “Judô – A educação para todos“.

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