Na trajetória, brasileiros vencem Polônia, Canadá, Russia e, na final, perde para o Japão. França e Coreia do Sul ficam com as medalhas de bronze do inédito formato por equipes mistas
O Brasil começou a pavimentar neste domingo o caminho para uma medalha olímpica inédita nos Jogos de Tóquio 2020. Pela primeira vez disputado em um Mundial adulto e já aprovado para a próxima edição da Olimpíada, o torneio por equipes mistas colocou a seleção brasileira frente a frente a outros fortes países. Após atropelar a Polônia, ganhar do Canadá de virada e derrotar a Rússia, o time verde e amarelo, com nomes como Rafaela Silva e Baby, encarou o fortíssimo Japão na decisão. E os criadores do judô passaram por cima e terminaram com o ouro. O Brasil ficou com a prata. França e Coreia do Sul terminaram com o bronze.
Dessa forma, a delegação brasileira se despede de Budapeste, na Hungria, com cinco medalhas. Além da prata por equipes, Mayra Aguiar foi ouro no meio-pesado (78kg), David Moura e Baby levaram prata e bronze entre os pesados (+100kg), e Érika Miranda foi bronze no meio-leve (52kg).
Com a quinta medalha neste domingo, o desempenho brasileiro em Budapeste supera o dois últimos mundiais. Em Astana 2015, a delegação teve dois bronzes, com Érika Miranda (52kg) e Victor Penalber (81kg). Em Chelyabinsk 2014, o país conquistou um ouro, com Mayra Aguiar (78kg); uma prata, com Maria Suelen Altheman (+78kg); e dois bronzes, com Érika Miranda (52kg) e Rafael Silva (100kg).
O Brasil agora tem nove medalhas em mundiais por equipes. Contudo, até essa edição do Mundial, os naipes – masculino e feminino – competiam separadamente. No antigo sistema, o Brasil foi prata em Minsk 1998, Pequim 2007, Antalya 2010, Paris 2011 (todas no masculino) e bronze em Tóquio 2008 e Salvador 2012 (nessa última, feminina e masculina), além de uma prata no feminino em 2013 no Rio de Janeiro.
Como foi o caminho do Brasil rumo à medalha?
1) Brasil atropela a Polônia
A seleção brasileira estreou com Rafaela Silva (-57kg), que venceu com um waza-ari. O segundo embate foi entre Marcelo Contini e Wiktor Mrowzynski (-73kg), e o brasileiro saiu vencedor por ippon. Maria Portela (-70kg) pegou Karolina Talach e ganhou. Primeiro, ganhou um waza-ari e, depois, o ippon decretou o resultado positivo.
Eduardo Bettoni (-90) defrontou Piotr Kuczera e o derrotou por um waza-ari. Anna Zaleczna foi a adversária de Maria Suelen Altheman, que imobilizou a rival por 20 segundos. Desgastado das lutas do dia anterior, David Moura perdeu rápido para Maciej Sarnacki por imobilização. Assim, o embate terminou 5 a 1 para os brasileiros, que avançaram para as quartas, onde encontraram o Canadá.
2) Brasil vira e derrota o Canadá nas quartas
Rafaela Silva entrou primeiro de novo nas quartas contra o Canadá. Jessica Klimkait foi a rival da campeã olímpica. A canadense entrou aplicando um golpe e já pontuou com um waza-ari. A carioca tentou duas vezes uma chave de braço voadora. Nas duas, quase entrou. A rival levou dois shidos (infrações), mas saiu vencedora. Marcelo Contini encarou Antoine Bouchard. Ele sofreu. O adversário conseguiu um waza-ari, mas o brasileiro deu o troco na mesma moeda e, no fim, conseguiu emplacar um golpe e vencer por ippon.
Maria Portela pegou Kelita Zupancic e, por um waza-ari, triunfou. Victor Penalber (-90kg) fez um combate com Louis Gagnon Krieber e ganhou tranquilo com dois waza-aris. “Susu” entrou em seguida para encarar Ana Laura Portuondo Isasi e, por ippon, foi a vencedora. Rafael Silva teve Kyle Reyes como rival. Por um waza-ari, fechou mais um 5 a 1 para o time do Brasil.
3) Brasil domina a Rússia e vai à decisão
O desafio na semifinal foi mais complicado para o Brasil, já que o time dos russos é forte. Rafaela Silva encarou Anastasila Konkina e, logo no começo, bateu o rosto no chão e sentiu. Em seguida, conseguiu um waza-ari e, dessa forma, venceu. Eduardo Katsuhiro pegou Uali Kurzhev na 2ª luta, que foi para o Golden Score. No tempo extra, o russo optou por não atacar e levou um shido. Melhor para os brasileiros. Alena Prokopenko foi a concorrente de Maria Portela, e a russa engrossou, levando para a prorrogação. Depois de quatro minutos de confronto, a gaúcha imobilizou a outra competidora: ippon!
Victor Penalber foi para o tatame contra Mikhail Igolnikov, e o duelo durou pouco, pois o europeu levou o carioca ao chão e ganhou por ippon. Maria Suelen entrou no combate seguinte contra Nataly Sokolova e, rapidamente, conseguiu um waza-ari. Mais tarde, imobilizou a rival para vencer por ippon e garantir a classificação do Brasil. Rafael Silva, o Baby, acabou perdendo para o gigante Saidov, mas o placar final ficou 4 a 2 para os brasileiros.
4) Japão passa por cima do Brasil e é campeão
Os criadores do judô não tomaram conhecimento do Brasil. Com dois campeões do mundo em Budapeste em ação, venceram fácil. No primeiro duelo, a campeã olímpica Rafaela foi imobilizada por Yoshida no golden score (1×0). Em seguida, Contini levou dois waza-aris do campeão do 73kg Hashimoto (2×0). Portela fez a luta mais dura, caiu para a campeã Arai apenas no golden score com uma punição (3×0). Na luta que sacramentou o ouro do Japão, Penalber não fez frente a Nagasawa e foi punido três vezes para ser eliminado (4×0). Com o resultado definido, Maria Suelen entrou no tatame e caiu para Asahina (5×0). Nem o duas vezes medalhista olímpico do Brasil salvou. Baby até que tentou, mas levou um waza-ari no golden score e também perdeu, para Ojitani (6×0).
Entenda o formato
A competição funciona da seguinte forma: são três pesos para cada naipe. No feminino: 57kg, 70kg e +70kg. No masculino: 73kg, 90kg e +90kg. Cada equipe é escalada com seis atletas (apesar de poder inscrever um número maior e decidir a escalação dos titulares a cada rodada, de acordo com a estratégia). Vence o confronto quem tiver o maior número de vitórias nos combates.
Os critérios de desempate são: número de vitórias por ippon. Em seguida, waza-ari. Se mesmo assim o empate persistir, é sorteada uma categoria para definição em golden score (prorrogação). Quem marcar o primeiro ponto, leva a vitória na rodada para o país. Os judocas ficam em uma área atrás dos treinadores e interagem com quem está no tatame, criando um ambiente de interação entre competidores de uma mesma nacionalidade.
O Brasil teve 11 inscritos. No feminino: Rafaela Silva e Érika Miranda (57kg); Maria Portela (70kg); Maria Suelen Altheman e Beatriz Souza (+70kg). No masculino: Marcelo Contini e Eduardo Barbosa (73kg), Victor Penalber e Eduardo Betoni (90kg), e Rafael Silva e David Moura (+90kg).
Judocas aprovam formato olímpico
Além de interação maior entre competidores e do sentimento de lutar em equipe, ainda há uma questão importante na disputa por equipes mistas. Ela valoriza o judô feminino. Afinal, há países fortes no cenário do judô internacional, como Azerbaijão, Geórgia, Uzbequistão, entre outros, que não possuem competidoras mulheres individualmente. Para Tóquio 2020, eles terão de formar atletas femininas se quiserem brigar.
– Vai valorizar muito o judô feminino, porque tem muitas equipes fortíssimas no masculino que não tem meninas. De uma forma ou outro, vão surgir meninas para disputarem essa competição na Olimpíada, elevando o judô feminino. A gente sempre brincou com os meninos sobre esses países que são bem fortes: “Ah, ainda bem que não tem no feminino”. Mas agora a gente não vai mais poder brincar com isso porque vão surgir meninas até 2020 – falou a brasileira Érika Miranda.
Fonte: Globoesporte.com